Orgulho hoje e sempre

Pegando carona aqui nos primeiros minutos do after lgbtqia+! day para postar uma foto que diz muito sem muitas palavras.

Fato: a vida, da mesma forma que nos exige trabalhar e enfrentar situações árduas, também permite conhecer, se reinventar e amar.

Tive a sorte de nunca sofrer qualquer tipo de preconceito. Quando juntei as peças do meu quebra cabeça virei a página e passei a escrever de caneta ou lapis sem borracha.

Como tudo tem a sua primeira vez, e hoje comemoro 10 anos que estou escrevendo esse BLOG, faço desse post o meu primeiro em comemoração ao orgulho gay.

Aqui o amor venceu. Vence sempre. Nunca deixou de ter o seu lugar. Vivi de várias formas em varias condições. Todas com a angústia, felicidade, planejamento e sinceridade.

Amem!

Do trabalho ao universitário

Recebi ao longo da semana insana de trabalho (diga-se de passagem ainda não acabou e se estenderá ao longo do final de semana) pedido de ajuda no trabalho universitário de um amigo.

Me senti lisonjeado pela lembrança.

A solicitação foi para responder basicamente três questões que transcrevo a partir do áudio

(1) como vejo o posicionamento do governo em relação a comunidade LGBT depois de tanto comentário e atitude que se vê ai; (2) como vejo a homofobia e transfobia no mercado de trabalho; (3) se o período da pandemia foi propício para ter um boom no movimento LGBT na rede social.

A reflexão sobre o primeiro item foi fácil. Afinal de contas, a comunidade LGBT antes ausente, ao longo dos anos ganhou espaço em todos os governos.

Maior aqui, menor ali, ainda que imperfeito para uns e satisfatório para outros, faz parte do jogo democrático essa luta pela ampliação de espaço.

Em outras palavras porém no mesmo significado, democracia é isso. Todo mundo participa por igual, diretamente ou através da eleição de representantes eleitos.

Seria bom se fosse fácil. Não é. A disputa de ego no debate das ideias num mundo plural, que hoje está conectado democraticamente pelo celular tem cansado muita gente. E tem aqueles que nem celular, água potável, casa e esgoto tem. Derrepente deixaram de ser materia de jornal, por óbvio em consequência a isso não tem midia social, e por ai vai.

Fato é que vejo existe amparo na esfera Municipal, Estadual e Federal considerando a cidade, estado e município do Rio de Janeiro. Ou seja, chegay a fase adulta quando compreendi minha natureza afetiva, com muita coisa arrumada. Pensar o presente 30 anos atrás seria inimaginável, ou que conheceria o amor da minha vida em uma comunidade lgbt então seria impossível.

Ja o item 2 enfrento dificuldade para abordar na medida em que não possuo no meu espectro – e como balizador – a analise da natureza afetiva de quem quer que seja como requisito e finalidade para contratar. Não trabalho olhando para o lado pensando que a vaga tem que ser preenchida por XYZ trans ou homo.

Esse assunto nunca foi pauta pessoal, politica e profissional. Nem dentro nem fora de casa. Sempre fui respeitado pelas ideias ou pelo trabalho. Tive na infância a influência de meus pais o respeito ao próximo antes de qualquer coisa. Se hoje ajudo uma associação de amparo ao próximo, no passado ja vi minha mãe pegar menino de rua para levar em casa dar comida, roupa e banho. Esse acolhimento ao próximo, essa atenção sempre esteve presente em minha vida nunca foi pré-requisito para nada.

Contudo e ainda que distante, reconheço que sou privilegiado. E se pudesse elencar um gênero para ser atendido em prioridade elegeria o trans. No final do dia salvaram a vida de muitos na batalha da liberdade de existir. Foram eles que começaram isso na minha geração. Do cinema a realidade, lembro com facilidade dos filmes alguns dos quais se repetiram na vida.

Finalmente, quanto ao último item, não vejo na pandemia um boom para nada. Vivemos hoje a vida e o vale da morte ao mesmo tempo. Ainda que nos faça refletir sobre como devemos começar e recomeçar a viver quando nossa casa esta em chama, situação que vivi, usar esse momento para expandir um movimento é impensável. Porque nem sempre os que chegam nele nesse tempo assim chegaram para isso. Muitos chegam perdidos, ardendo, pregando, agonizando em suas palavras e preconceito. No final do dia entram uns saem outros talvez em igual ou maior intensidade.

Sim, concordo que em tempos de doença, polarização e ódio disseminado majoritariamente pela falta de paciência de muitos, um movimento vem a calhar. Só que entrar numa comunidade é a porta para várias questões e outros problemas. Vejo o mesmo em relação a igreja. Não é porque esta nela que através dela se resolverá uma questão interna. Por esse motivo tenho uma posição conservadora no que diz respeito a alavancagem (ou boom) do movimento no período de pandemia.

A parábola do predestinado

Ainda que meu longo tempo no divã não tenha sido pautado por questões inerentes a sexualidade, percebo que fui predestinado a ser gay, ainda que não tenha de imediato atendido o chamado.

Naquele tempo, a comunicação se dava por telefone após ouvido o ruído de discar. Para encaminhar mensagem por escrito, se não por carta ou telegrama, restava telex que transmitia ao vivo ou mensagens gravadas por fita perfurada.

De mídia magnética só fita k7 e de rolo, esta última muito complexa e preciosa para mensagens de voz. Ainda que tivesse um microcassette para tal imagina se alguém iria perder tempo para dizer tu é gay que eu sei.

Não é de hoje que predestinados recebem suas mensagens sob enigmas, por diversas formas, até mesmo do além.

Escutei na primeira leitura da missa de hoje, em celebração a Santo Antonio, que jesus se comunicava com os fiéis através de parábolas, e de forma mais explícita aos que lhe acompanhavam no dia a dia, em sua caminhada.

Se até minha adolescência, mesmo com o advento do fax, telefone celular, e-mail, SMS e internet não foi fácil imagino naquela época em que coisas importantes eram escritas em tábuas e/ou pergaminhos.

Resumo da ópera: vivi a vida rolando lero até captar a vossa mensagem.

Ainda que tenha casado no dia do casemento dos meus pais por amor. Ainda que tenha na lua de mel chegado em Amsterdan em plena parada gay tendo optado por dançar e beber cerveja. Ainda que tenha tido um cachorro da raça poodle preto toy chamado Jean Pierre Du Vermont. Não amado mestre não sabia que era gay.

Se tais elementos me fizeram um predestinado hoje sei que nada sei. E ainda que perdido a mensagem, minha infância tinha muito mais emoção.

Naquela época não havia bullying . Gordo, magro, homem, viado, bisha, forte e covarde eram termos usados que não agrediam nem definiam ninguém. Li Fernando Sabino, Jose Alencar, Agatha Christie, Monteiro Lobato sem me influenciar.

A vida naquela época não girava em torno do que estava sentindo, e sim do que tinha que fazer, dos obstáculos que deveria completar. Esse modo de viver moderno em que tudo é sentido, debatido, explicado, contextualizado eh muito chato para não dizer impossível de viver.

Ainda que não tenha percebido minha natureza afetiva por homens, talvez em razão dos amores platônicos, os que deram certo contaram com o protagonismo de mulheres excepcionais, uma das quais inclusive casei.

Quando entendi a mensagem segui e tive a sorte de chegar num ponto em que a humanidade estava bem diferente em relação a isso. Ainda que estejamos vivendo hoje um momento difícil em razão do egoísmo polarizado e imaturo que busca se afirmar e ditar a política do coletivo. Hoje tudo é diferente.

Somos tolerados. Isso é bom. Resolve questões do dia-dia como conviver com um parceiro. Como não vivo buscando aprovação de ninguém, tolerância mantém um nivel minimamente aceitavel de contato com terceiros. Também posso casar no cível, o que é bom, afinal de contas somente quando se tem a segurança da união é que podemos viver através do casamento o conceito e experiência de união para o fim de constituir família e através dela experimentar plenamente a vida.

Casar é bom. Viver sem preconceito em razão de doença também. Apesar da crítica ferrenha a forma pela qual links patrocinados e alguns entendedores simplificam a vida tornando normal questões importantes como DST, seja para dar esperança ou para vender tratamento. Fato que nem isso nem a camisinha ou falta de uso é motivo para alguém deixar de ser gay.

Nem mesmo a santa igreja católica que apesar de recentemente ter mantido em sua tradição milenar o entendimento que o casamento não se aplica aos gays tem sido um empecilho a isso. Afinal seu papa disse que devemos aceitar e respeitar os filhos de deus independente de sua natureza. Não me surpreende se nos próximos anos surgir algum tipo de liturgia nova, que tipo benção ou sacramento para reconhecer isso sem o conflito do casamento tradicional permitido apenas pela união de homem e mulher.

Então chegay no campo com a bola andando no segundo tempo numa partida ganhado com larga escala contra o retrocesso e os problemas do passado.

Isso é garantia de viver tranquilo, num mar de rosa, sem pehengue?!

Claro que não. Superada a parábola do predestinado depois de trinta anos de vida há muito pela frente. E assim espero ideia e sugestões para um post

Boa semana e bom final de domingo para todos!

Da vida ao divã, do divã a vida.

É senso comum nos sites de pesquisa tipo Google que os filhos são e representam muitas vezes o legado da paternidade de seus pais. Nessa condição nascemos aprisionados ao conceito de nossos pais sobre o que somos e o mundo que vivemos.

O mistério de ser filho é explorado em todos os meios de comunicação. A TV por exemplo não deixa passar um fato sem antes dizer de quem o noticiado é filho, de onde veio e o que faz. Seja para criar expectativa ou identidade com sua audiência.

Ser filho é um encargo. Vira notícia e gera audiência. No cinema se manifesta de varias outras formas. Harry Potter nasceu com uma marca na cabeça. Na saga Crepúsculo no filho era impresso a marca do pai, ainda que lobisomem. A projeção da história de seus pais gerou consequência nos seus filhos. Se alguma dúvida ficou basta assistir Inteligência Artificial que mostra ate os robôs podem ser e se aceitam como filhos.

Na vida real o problema começa quando começamos a frustrar as expectativas de nossos pais em relação ao que desejam de nós enquanto filhos.

Isso não é fácil viver, não depois de ter na memória tantos eventos que acionam gatilhos. E são muitos. Nascemos com a marca do aniversário que ja nos remete aos motivos pelo qual somos filhos.

De minha parte nunca deixei passar barato essa condição. Para ser justo e correto, sempre fui um filho bem diferente. Ja na alfabetização não me deixei levar por testes. Não os fazia e só não fui reprovado por verbalizar o motivo, dando a entender que ja estava alfabetizado e que ja tinha compreendido a lição.

Depois comecei a ouvir opera e aos 4 anos escutava “O Rigoletto” no volume alto como hoje se toca Anitta na rádio. O que dizer, era difícil trabalhar na casa de meus pais. Aquele filho maluco que escuta uma gritaria espantou o marceneiro, enloqueceu a baba, empregada e por aí vai. Também não era igual ao filho dos amigos dos meus pais.

Certo dia indaguei, se viver é morrer um pouco a cada dia porque haviam me tido como filho? Fui para na terapia.

Sem demérito da situação e de minha mãe que sempre procurou me dar o melhor, fato é que crianças pelo script devem ser crianças. E como tal nos é esperado agir em um padrão.

Incontáveis os casais que a partir do nascimento do filho se sentem incluídos em um meio social que seja para se sentir igual ou inserido no contexto de pais com filhos recém-nascidos, pequenos, da mesma creche, escola, infância e por aí vai.

Não dei essa facilidade. O que não era fácil piorou. Passei a dizer ao meu irmão de forma bem clara e dinâmica que um dia todos iriam morrer. E que ele também iria morrer.

Enquanto ele dividia o quarto com esse maluco que aqui escreve, meus pais aumentavam o número de dias de terapia. Na altura do campeonato ja estava indo 3 ou 4 vezes por semana sem previsão de alta.

Mergulhei na terapia por mais de trinta anos. Infante, criança, adolescente, adulto, não houve sequer um momento que vivi sem terapia.

Engraçado que passei tantos anos falando tanta coisa no divã que nunca parei para falar da minha sexualidade. Busquei essencialmente entender qual era o papel esperado de mim enquanto filho nesse universo que se apresentava. Vivia na busca de entender qual seria a equação a resolver os problemas da vida de modo que pudesse viver facil e rapidamente.

A busca pela equação não era aritmética. Anos depois entendi que a equação seria a metáfora para me sentir confortável enquanto filho de meus pais.

Poxa se tivesse entendido isso mais cedo teria vivido outras experiências. Se bem que o processo pelo qual por anos falei e amadureci em torno do que sou hoje me deixou mais seguro para viver qualquer coisa. Felizmente tive alguém que por muitos anos me ouviu pacientemente sem julgar. Que logo entendeu o caminho que havia escolhido e seguiu sem apressar. Depois de muito falar passei entender e agir. Isso também me fortaleceu.

A experiencia de viver a desconstrução de um fato a cada dia, ou mesmo da vida por conta da terapia por tanto tempo, não é fácil ser vivida.

Sim! a terapeuta esta viva até hoje, passa muito bem obrigado.

A certeza que como filho vivi em algum momento a expectativa de meus pais veio na forma da indagação sobre o porque estava assumindo minha sexualidade pos maduro. Sera que eles sabiam? Depois veio na constatação que os filhos do meu irmão serão os únicos netos que terão. Para botar a pa de cal na questão certo dia ouvi que a vida não estava sendo nada como planejado.

Se não tivesse feito terapia talvez teria levado no pessoal. Felizmente as marcas do passado e o amadurecimento de uma vida me levou a dar a seguinte resposta “viver é perigoso”.

Não pedi para nascer, e vivi um bom tempo verbalizando a dor do parto e o acordar da vida como a linha tênue entre a vida e a morte. O que é motivo de alegria e simboliza um legado por uns para mim foi a superação de dificuldades, da alegria a tristeza, do ansioso ao calmo, do bipolar ao normal, de situações essencialmente extremadas até conseguir fazer sentido nisso tudo.

Foi quando aprendi a segunda lição. Depois de entender que viver é violento, aprendi que não há nada de seguro nas relações humanas.

Porém essa reflexão farei na madrugada quem sabe de outro dia ou possivelmente em uma reflexão por vídeo a ser adicionado nesse texto.

Educação sexual antes tarde do que nunca!

Não é de hoje que a perda da virgindade é um tabu, tanto para o homem quanto para a mulher.

Da cama a tela, ao longo de minha vida assisti “Tudo que voce deveria saber sobre sexo” de Woddy Allen, ao classico “a primeira vez de um homem” esse último embora antigo, foi filmado na era tecnicolor.

Nem tudo é perfeito, os filmes estão longe de serem didáticos, e o que não ensinaram eu também aprendi no livro O Guia dos Curiosos – Sexo.

Fácil perceber que a minha educação sexual foi horrível. Deixou muito a desejar. Logo enjoei do livro e comprei a outra versao do Guia dos Curiosos que na realidade era um almanaque sobre a vida.

E o que a escola me ensinou? A dizer não. As aulas de educação sexual nos Estados Unidos eram basicamente para dizer que todos nós temos o direito de dizer não para situações que não estamos preparados.

Como não gostava de pornografia e tinha muitas questões pessoais que tratava na psicanálise, melhor seria se os filhos pudessem nascer sem sexo e que isso (sexo) ficasse restrito aos meus pais.

A curiosidade que não tive sobre sexo veio na forma do aleitamento materno que não tive. Incontáveis vezes me peguei fazendo leite possivelmente imaginando o que seria essa relação do filho no peito da mãe.

Anos se passaram e em algum momento eu, como muitos, chegariam ao ponto que necessariamente se fariam a pergunta: o que é transar? Sou bom no sexo?

Ainda que a resposta para essas perguntas esteja na minha cabeça e na vida de quem me rodeia, fato é que comecei com uma profissional e por um tempo tomei o gosto a ponto de variar em estilo, aparencia, etnia e por aí vai.

Talvez por isso, e credito a elas, tenha começado a minha vida sexual usando camisinha. Afinal ali tem uma linha muito clara do que de melhor deve ser entregue a voce.

Olhando para traz não me recordo de ver nas revistas dos amigos de pornografia explicita camisinha. Nem nas revistas masculinas. Também não me lembro de conversar sobre isso com meus pais. A única menção teria ocorrido nos Estados Unidos.

Pois é. Tempos depois, quando o vocabulário permitiu, entendi que depois do direito de dizer não, vinha o de usar camisinha.

Aí e que a coisa fica complexa no Brasil. Com tanta polarização em torno da sexualidade, fiquei surpreendido no tempo de Google, que o filho de uma amiga teve sua primeira vez com uma menina sem camisinha. Disse que gostou e se deu a nota 7.

Com a mãe em desespero por saber publicamente desse embaraço sem muito espaço para o diálogo me coube perguntar se ja havia passado nove meses.

Ao que parece não houve nenhuma repercussão humana embora as doenças sexualmente transmissiveis estejam aí.

Talvez os meios de comunicação sejam os grandes responsáveis pela desinformação. Afinal se não podemos ter educação sexual na escola num mundo em que hoje em dia ninguém morre de doença alguma, e me refiro ao siflis e hiv, esta tudo certo.

Não esta.

Se o pai não educa, se a escola não instrui, e se os meios de comunicação relativizam tudo em prol do tratamento e do padrão que desejam criar, esta tudo errado.

Vamos pensar que num universo compreensível essas questões que são pessoais quando perguntadas pelo filho seriam respondidas de forma a lhe ensinar a respeitar e preservar a vida e a saúde antes de qualquer coisa.

Só que na internet tudo pode. Se não por escrito em editorial nos links de propaganda paga tudo é possivel, leio como normal verdadeiras barbaridades e me surpreendo com o número de pessoas que não ve, que finge não ler e agora com um adolescente que possivelmente sem ideia ou com a falta da noção de risco leu, não viu problema e se deu a nota sete.

Para onde vai a humanidade?