O lanche não é de graça

Não é de hoje que fico surpreso ao perceber certos exageros de alguns prestadores de serviços em nosso dia-dia.

Fato é que nos acostumamos muito rápido a receber qualquer benefício.

E como vivemos um período de muito egoísmo nas relações pessoais e pobreza de espírito de outros, nesse tiroteio cego muitas vezes contra a humanidade, quem tem olho reina.

Se não quiser olhar também não tem problema, toma aí um lanche, aceite esse mimo e não reclame.

Assim foi que pedi um teste de Covid para um laboratório que agendou o exame aqui em casa e tomei alguns sustos.

O primeiro foi com o valor, próximo de meio salário mínimo. Me pergunto quem da classe trabalhadora e que tem seus proventos sem correção consegue arcar com esse valor?

Segundo quando recebi a profissional, super prestativa, educada e organizada a ponto de registrar atendimento, prestar informações e trabalhar por planilha – e não celular – confirmei que de fato não há tecnologia que substitua nossos processos neurais de assimilação, processamento da informação e execução.

O maior deles foi quando ao final do exame recebi em uma caixa de papelão dura e personalizada um lanche contendo 1 suco, 1 sanduíche pão de miga misto, 1 pacote de torrada marilian, 1 polenguinho e 1 goiabinha.

Este pacote me foi entregue pela profissional com grande entusiasmo e satisfação. Como se fosse merecimento e compensação pelo exame que acabara de realizar ou mesmo compensação pelo que havia acabado de pagar.

Recebi a caixa surpreso, tão surpreso quanto fiquei ao receber a profissional de prope, uniforme coberto por um avental do pescoço ao braço, face shield, máscara e touca. Já adianto que a diferença dela para as mulheres que vivem nos Emirados Árabes é nenhuma.

Quando desperdício.

Quem faz esse lanche? É algum terceirizado? Quem determinou a compra das embalagens duras de material acartonado? quem contabiliza o custo de ter que comprar e fornecer isso para toda a rede de diagnóstico? Esse lanche é de graça?

Se não for porque existe esse tipo de demanda e gasto até para exames que não tem sentido?

Me recordo quando pequeno cansei de fazer exame de sangue em laboratório particular e naquela época, ou seja, 35 anos atrás, ainda que em jejum, não recebia qualquer tipo de brinde.

Provavelmente naquela época não haviam muitos prestadores de serviços terceirizados, os funcionários assim por dizer eram contratados e ainda que naquele tempo não havia o reconhecimento de direiro e proliferação de classe de trabalhadores e sindicatos, tudo funcionava melhor ainda que com menos pessoas, estas tinham poder, gestão e responsabilidade.

Há cerca de 25/30 anos atrás os gerentes de agências bancárias tinham mais autonomia do que os sistemas de hoje. A fila do banco era maior porém os problemas eram resolvidos naquela hora. Hoje canso de ser atendido rapidamente e submeter os pedidos para alguém e esperar ate o sistema processar, ou seja, alguém em um cargo maior apertar o enter.

De um tempo para ca parece que a sociedade se estruturou em torno de agregar valor ao serviço ainda que seja pela falta de gestão ao assumir custo pelos terceirizados do que fazer contas.

E por ai vai, o laboratório distribui lanche a torta direita e esta normal.

Não fico feliz pelo lanche, o que me impressiona é a eficiência e baixo preço e decisões racionais. Quem faz exame em casa, ainda que estivesse de jejum, não precisa de lanche, afinal esta em casa.

Também me perguntei se a exigência de lanche seria por força de alguma resolução da ANS e decisões do Conselho Regional de Medicina. Ainda que não saiba a resposta, espero que não seja esse o caso.

Ainda que estejamos vivendo um tempo estranho, em que o Governo achaca os empresários para consecutar seu projeto de cidadão, no programa que finge dar o mínimo de estrutura, e por ela gasta bilhões de reais sem que esse dinheiro realmente chegue em forma de serviços eficientes a população, esse tipo de normatização não é atribuição do Estado e de Agência Reguladora, quanto mais do Conselho de Medicina.

Ontem li um tweet do secretário municipal de educação desejando melhor estudo as crianças com acesso a cultura e esporte.

A ideia é politicamente correta porém a execução é pessima. O dia que um político e secretário entender que dinheiro com obra não é educação; que a proliferação de cursos e congressos de atualização não é educação; que merenda não é educação; que transporte escolar não é educação; que educação não é tempo integral e atividade escolar e sim professor valorizado e escola sem ideologia, nos vamos em frente.

Vamos viver um tempo em que as pessoas serão valorizadas e não as instituições, e vamos perceber que essa fidelização pela forma primaria de oferecimento de serviços inúteis e gestão estrutural disso não é merito e sim burrice, daí porque muitos não aprendem a pensar, somente seguir o criador.

Perceberemos que o lanche não é de graça. Ate quando?!

Midia social… não, é sentimental mesmo!

Nunca antes imaginei que seriam as emoções o principal arsenal e vilão do mundo moderno.

É por elas que vejo muitos se desconectarem do cotidiano para imergir no que outros estão fazendo e sentindo.

A cobiça a vida alheia vem aos poucos avançando para englobar também a felicidade alheia.

Em comum reparo que muitos quando perguntados o que é isso, que felicidade é essa, respondem sem titubear “ah é instagram” e por aí vai.

Se antes o Facebook me chamou atenção e me impreesionei com a quantidade enorme de sentimentos disponíveis para descrever quem, como e onde estava sendo/fazendo/sentido no dia dia.

Hoje vejo o quanto retrocedemos. De lá para ca tivemos a invasão dos emoticons, dos stickers e até mesmo de tik tok onde tudo é liberado. É ser ridículo sem barreira. Isto é felicidade ou padrão de comportamento?

Aqui nenhuma crítica a quem usa, vale sempre lembrar que isto é uma observação a forma pela qual estamos mudando a forma de expressar senão pelas palavras vamos pelos sentimentos.

Me diga o que voce sente ao ver um vídeo daqueles… não diga, faça um e se engaje, sinta que pertença a este mundo fazendo nada menos do que o que todo mundo faz.

Porque no fundo todo mundo é infeliz e não achou outro meio de evoluir e expressar essa infelicidade? Ou porque faz parte da evolução tocar menos e sentir mais.

Evoluir não é ligar para ouvir sua voz, cuja escuta processa outra emoção ao vivo, instantânea e que requer portanto conteúdo para estabecer, manter e terminar o diálogo.

Não, interações pessoais são coisa do passado. Coisa de quem não usa autocorretor em texto, de quem ainda tem dicionário impresso em casa, ou se quem reluta ter carro elétrico simplesmente porque não valoriza interface e software sobre o que a maravilha da engenharia produziu.

A cada dia que passa sinto que sou menos desse mundo, ou ao menos da geração que ai esta e tenho dúvida se a minha percepção e opinião são mesmo enriquecedoras ou retrato do período que vivi.

A que chamamos a cooptação da emoção sobre qualquer experiência ou ate mesmo sua valorização exacerbada como meio de vida?

Parece burrice, ou mesmo o padrão atual de vida, engajamento, like e por ai vai.

Uma pergunta: da para ser feliz com tantos pensamentos complexos e sem resposta? Claro. Tanto por dentro quanto por fora. E ainda consigo amar, cuidar dos filhos, escutar musica ao passo que escrevo esta reflexão de domingo.

Boa semana!

Tem algo (estranho) no ar

Hoje pela manhã respondi de forma dura o tweet do secretário de saúde que informou não haver problema com Covid no Rio exceto por 2% das pessoas que não vacinaram.

Ele não se importa.

O alerta esta no fato que pessoas 100 por cento vacinadas em 2-3 doses estão com Covid e isso não esta legal. Nesse contexto em que é normal ter Covid sem sintoma mais grave não descarto o surgimento de nova variante cujo nome ja sugiro: variante paes.

A propagação do virus não tem sido bem aceita. Diz o mundo que isso não esta legal. Vários países se fecharam por conta do alto grau de contágio. Nenhum tem por base a mortalidade ou internação.

Enquanto isso, estamos bombando, o Rio esta aberto as festas e recebendo turistas.

Não há distinção entre o alegado negacionismo do presidente com o liberalismo do governador e prefeito do Rio de Janeiro.

Comum entre eles, ambos são coniventes com a transmissão comunitária para tentar criar a imunização de rebanho.

No Rio fiquei estarrecido com a forma pela qual o setor hoteleiro pressionou para manter a cidade aberta no Reveillon e Carnaval. Porque? Qual o interesse desse setor? O que representa em número? Tem dinheiro na mesa? São alertas e perguntas que ficam no ar a partir do momento em que a política pública se volta para esse setor. Outra coincidência, disseam que este ano seria pautado o projeto de Lei que autoriza Bingo.

Fato que ano passado, enquanto a guarda estava alta, e as pessoas mais isoladas, não havia papo de gripe, nem preocupação com a transmissão.

Hoje é comum ouvir relato de pessoas que estão gripadas, algumas sem querer saber se tiveram ou não Covid.

Porque?

Sera porque se deram conta, dois anos depois, que tomaram vacina e isso não resolveu a questão do Covid? Ou talvez porque nem mesmo depois de vacinados estão dispensados de usar máscara?

Bom lembrar que contra essa doença estamos em guerra. Somos soldados de guerra cujo inimigo é invisível.

A percepção que muitos estão cansados da batalha é visível. Não estou nem a considerar os que usam máscara com a napa para fora. Ainda que os ignore porque talvez tenham bafo, ou sejam mal educados, é alarmante o fato que nossos soldados cansaram.

No caos aumenta ainda mais o efeito Bird Box daqueles que, vacinados ou não, de direita ou esquerda, conclamam os outros a sair, viver e sentir a realidade. Vem ca. Saia de casa. Vem ver. Que lindo. Não tenha medo. Esta tudo bem…. Até você pegar, entender que não vai embora rápido, que demora, que parou de sentir cheiro e/ou gosto, se não tiver outro pehengue até melhorar.

O tweet da minha amiga e reporter adaptando a expressão segura peão para segura Covid em comemoração a cidade que esta cheia e bombando é infeliz. De extremo mal gosto. Mal colocado. Por outro lado reflete a forma perdulária pela qual aqueles que estamos habituados de ver e ouvir falar do dia-dia estão cansados, botando o povo as ruas.

Lamentavelmente a TV Globo estabeleceu, ao que parece, um pacto com os governos no sentido amplo. A par da comum reclamação do Bolsonaro, que se tornou rotina, o unico foco é falar da internação dos que não foram vacinados. Nenhum juízo de valor no aumento das internações, da contaminação, e dessa política de normalização do contágio.

Estamos na contramão do mundo nesse foco.

Senti bem o aumento de casos quando fui repetir meu exame de sangue no Richet de Botafogo que é sempre vazio.

Desta vez, lotado! Em sete dias a calmaria virou um caos, cenário de guerra. Gente chegando reclamando de febre, visivelmente abatida. Gente aparecendo com e sem marcação. Eu demorei 2h de espera para fazer o cadastro diante de tantos agendamentos e 30 minutos para fazer o exame.

E as seguradoras são perversas, testemunhei a espera de 40 minutos de uma senhora cuja seguradora estava demorando para autorizar. Fiquei pensando, a que ponto chegamos! O agendamento de exame via seguro requer o prévio envio de documentos e solicitação médica. Nem assim a seguradora foi rápida.

Em comum todas as seguradoradoras parece aprenderam bem a lição Prevent Senior relatada na CPI do Covid. Aprovem o básico, apenas o básico. Demorem para fazer uma triagem da manada eficiente e represando a demanda temos uma suposta eficiência ao dosar o gasto.

A senhora com o filho e uma mãe com 91 anos disse que liberou geral depois da terceira vacina, que não tinha sentido se preocupar.

Então porque estava fazendo o exame indaguei se não tem qualquer tipo de precaução em relação a doença.

Só para comprovar se tem ou não para avisar a mãe.

Ou seja, a consciência pesa! talvez a consciência das pessoas seja a única lembrança do dia de hoje na salvação da cidade quando instados a votar, porque os políticos do Rio tanto do executivo quanto do legislativo estão impunes na autorização dessas grandes festas. E alguém precisa ser responsabilizado por isso. Além do cidadão que se prestou a ser idiota util na consecução dessa política pública.

Enquanto isso, do que adianta ter um protocolo de um número que não é chamado? O que ganhamos na fila do sistema quando o sistema não nos chama? Isso porque não dependo do sus. Se dependesse seria muito pior.

De bom agradeço a Deus por estar superando essa doença vivo. Não sei dizer se a vacina ajudou. Tomei porque não vejo nada de ruim e errado em vacina qualquer que seja. Da mesma forma que muitos não morreram sem vacina, outros vacinados estão morrendo.

Minha crítica não é com isso, e sim com aqueles que eventualmente transmitem sem a qualquer exame moral da história. Afinal fosse uma doença venérea tipo siflis ou hiv todo mundo sai correndo para fazer o exame. Porém no Covid a reação é diferente. Ainda que seja crime passar doença a outro voluntariamente, se for covid parede que isso não se aplica.

Considero que isso é decorrente da falta de instrução e educação, vem desde o berço, quando os pais cansados optaram por dar um tablet ao filho com uso irrestrito. Hoje adolescentes/adultos estão acostumados a viver sua realidade, somente o que lhe interessa e nada mais.

Resumo da ópera: ninguém quer morrer por ninguém, que vergonha, de pensar que Deus morreu para nos salvar.

A (triste) realidade de serviços delivery no Rio

Tem gente que faz de tudo na vida. Outros preferem de cara um conforto. Eu até esses dias nunca me vi numa situação de ter que depender dos outros.

E como tudo tem a primeira vez, uma coisa aprendi nessa luta contra o Covid (afora a irresponsabilidade pessoal, ética e moral de quem me passou e sequer teve a dignidade de uma vez comunicado ir testar) é pedir e aceitar ajuda.

E o supermercado passou a ser o meu primeiro desafio!

Entrei no site/app do Zona Sul, para minha surpresa só poderia comprar até 30 ítens! Como assim? Não escolhi ficar doente a vespera do ano novo. Nem eu, nem ninguém. Ainda que pudéssemos escolher o período para adoecer, o que historicamente numa relação de emprego acontece na segunda-feira feira, certamente após o time preferido ganhar ou ter feito aquele programa auspicioso de domingo, creio ser unanimidade que no ano novo, em especial não.

Ainda que exista quem não gosta, este geralmente posta dizendo que dorme. O fanfarrão ta lá abraçado com alguém no bar, ou na festa. Em comum tem aquele papo que todo mundo usa uma cor, da superstição de santo e por aí vai.

Ninguém escolhe ficar doente na véspera de ano novo, nem de covid, nem de gripe ou qualquer outra doença tipo cancer.

Na impossibilidade de fazer uma longa lista de compras para eliminar esse problema, o impulso do jeitinho criativo (brasileiro) deu um jeito e fiz duas listas de compras.

Isso depois do pehengue de conseguir que o app do mercado aceitasse meu cartão, afinal não havia outra alternativa de pagamento e não sei porque razão estava recusado.

Essa tarefa exige tanta paciência quanto tenho de cuidar dos efeitos colaterais e esperar esse virus passar.

Qual não foi a minha surpresa, das duas compras que fiz, a primeira demorou 4 horas para chegar e a segunda demorou 30 minutos.

Não entendi a lógica do zona sul de fracionar a lista de compras. Percebi que não existe ordem de chegada e de montagem da lista. Os itens mais complexos e que em tese exigem mais tempo chegaram antes dos mais óbvios. Nenhum entregador sabe dar informação de qualquer natureza que seja.

Fato: serviço no Rio de Janeiro é ruim mesmo.

Tudo começou quando a cidade se deteriorou a ponto de banalizar sob o rótulo de cultura a educação. Perdemos a chance de capacitar pessoas com uma ferramenta capaz de lhes dar algo que vai muito além da autonomia de trabalhar para ganhar dinheiro e pagar contas. Tiramos deles talvez a única chance de fazer pensar fora da caixa, entender e lidar com as questões complexas do dia-dia e solucionar de modo eficiente através da tecnologia.

Isto não acontece no Zona Sul. A máquina geradora de tarifa que cobra 15 reais para alguém trazer da esquina o pedido funcionou muito bem. Só que o conteúdo do pedido é tão ruim quanto a falta de instrução.

Se antes da covid tarefas simples como a formação de uma fila para uns ja é quase impossível, agora então fila é coisa do passado.

Fila? Ninguém faz fila. O que precisa ta aqui na telinha do celular, voce da um click, joga para cima no instagram, adiciona no carrinho, taca-lhe pau e vai.

Pena que o mundo não gira na vontade, na foto e nos conceitos do virtual. Ler e opinar sobre um serviço, se não for no reclame aqui ou em ação judicial para buscar um trocado esta em falta.

Os efeitos nocivos dessa falta de instrução são por hora permanentes. Em comum se replicam no efeito pandemia nas múltiplas plataformas. Ja pedi no Rappi e meu entregador se perdeu do Jardim Botânico ao Flamengo acabou em Santo Cristo.

Só depois entendi porque muitos me telefonaram para oferecer ajuda na questão do mercado. É senso comum que nenhum desses meios digitais de compra são eficientes. É tudo ruim, para pior. E para azedar, no Rio de Janeiro, comparado a São Paulo por exemplo é um abismo… para pior.

E não esta ok.

Uma tarefa simples quanto receber uma lista por ordem de chegada e separar produtos solicitados independente do contato para substituição em caso de ausência esta exigindo muito de determinadas pessoas e suas instituições, quem dela faz precisa ler, interpretar, seguir o script, no futuro tarefa de iluminati.

Sinto que assim como na vida, na política e na turma do nhem nhem nhem existe um propósito de desconstruir a sociedade através desse comportamento erratico, da polarização tanto da esquerda quanto direita desse lutas em detrimento de assuntos importantes.

E o reflexo da falta de educação e instrução é uma responsabilidade política de todos os grupos. Até então os projetos pedagogicos fracassaram, as ideias foram ótimas no papel e agora o que se tem é gente escrevendo menine, fazendo interpretação literal e pregando pela constante luta e ampliação de direitos sob qualquer bandeira.

Que náusea, vou parar e me recuperar.