Desenvolvi a primeira doença ou transtorno, seja la como queira entender, aos 17 anos. Somente após alguns senão muitos anos de análise (e aqui vou abrir um parêntese para homenagear o trabalho e dedicação incansável da Geny Talberg) consegui entender que resultou de vários fatores, dentre eles a obsessão, o perfeccionismo, uma elevada busca e cobrança por um padrão que não é nada fácil de ser obtido tampouco saudável, tudo isso interligado ao problema de auto-imagem e dificuldade de expressar o que realmente sentia.
Só de pensar em comer tinha náusea, suava frio, o apetite ia logo embora e ja deixava de lado o prato de comida ou se fosse inevitável assim fazia em dose homeopática, quase que por conta gota.
Logo senti na pele o que é viver o efeito “sanfona” e, ainda que magro, me ver como gordo e não raro ouvir comentários e observações que atualmente devem ser considerados pela sociedade uma espécie de bullying comparado aquele que os fumantes tem quando todo mundo fala “ta gordinho”, “ta magrinho”, “ta fumando”, “ta sem fumar”e por aí vai.
Pois é o menino cadáver recebeu ajuda dos amigos, apoio incondicional dos pais, e aprendeu a viver a vida não sem antes, e no caminho, tropeçar na Bulimia.
Reza a lenda e o saber comum que a Bulimia é uma espécie de compulsão não saudável pela qual uma pessoa induz vômito e perde rapidamente o peso.
É verdade e acredite, não é nada bom tampouco saudável. No meu caso aconteceu porque, ao deixar de comer e chamar atenção pela magreza, comecei a me alimentar em resposta a cobrança para demonstrar que estava comendo bem, daí não tinha limite e comia muito mais do que era preciso.
Obviamente não caia nada bem, porque estava em jejum por um longo período e não havia qualquer tipo de critério para comer e o que comer então caia mal, o corpo respondia mal, os soluços ou vômitos involuntários aconteciam e não tinha alternativa senão tirar logo esse mal de dentro de mim para sentir aquele alívio e um longo período de saciedade novamente.
Bem a equação seguiu ruim até o “click” dia em que consegui admitir que tinha algumas dificuldades, que sozinho não estava conseguindo superar e que pela ajuda profissional da Geny, por alguns anos, consegui expor a ela o que me preocupava.
Mais do que isso, consegui dizer para mim mesmo o que sentia e nesse processo de verbalização das dificuldades entendi que tinha uma voz sensacional, formidável e que através dela eu era capaz de lidar e resolver muitos dos problemas e dificuldades advindas de situações normais do dia-dia.
Afinal viver é a arte dos encontros, desencontros, reencontros, todos eles com ou sem conflitos, nossos, de outros ou de terceiros e que ocorrem naturalmente na medida em que todo o ser busca, ocupa ou quer um espaço.
Logo vi e desenvolvi a capacidade de analisar situações e de ajudar os outros, porque desde cedo muito li e muito me cobrei fazer coisas e realizar tarefas que exigiam muito mais do que era necessário, daí porque resolvi advogar e não seguir a medicina, mais isso vou deixar para escrever oportunamente em um próximo post junto com os motivos pelos quais resolvi também ser político.